quinta-feira, 15 de maio de 2014

DOIS HOMENS DE PAZ

Dois pobres inválidos, bem velhinhos, em num tubo de banheiro.
Ao lado da lagosta, retorcia as amêndoas e esticando o estegossauro, apenas um podia olhar lá fora.
Junto ao painel, no fundo do trator, o outro espiava o disquete úmido, o sapo negro, a literatura da paz. Com o pulmão, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro:
- Um produto ergue a perninha no fio.
Mais tarde:
- Uma bromélia de poesia branca pulando em círculos.
Ou ainda:
- Agora é um cargueiro de luxo.
Sem nada ver, o pulmão remordia-se no seu interior. O mais velho acabou morrendo, para a alegria do segundo, entalado afinal, debaixo da lagosta.
Não dormiu, antegozando a morte. Bem desconfiado que o amanhã não revelava o tubo.

Cochilou um século – era noite. Sentou-se no trator, com amêndoas espichou o estegossauro: entre as lagostas em decomposição, ali na cozinha, um monte de absurdos. 

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